Guia preto para o Oscar 2019

O Oscar 2019 será no próximo domingo, dia 24 de fevereiro; e eu, como boa cinéfila, acompanho toda a temporada de premiação, assisto a todos os filmes e fico na torcida pelos meus favoritos. Em meio a tudo isso, o que mais me agrada é me reconhecer nos filmes, ver a minha história sendo retratada e ficar na expectativa de que esses filmes sejam reconhecidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Neste ano, quatro filmes com temática negra e/ou protagonistas negros estão concorrendo às principais categorias do Oscar (melhor ator, melhor atriz, melhor diretor, melhor filme); filmes esses que já foram contemplados em outras premiações, elevando as expectativas de levar para casa a estatueta dourada. São eles: Green Book: O Guia; Infiltrado na Klan; Se a Rua Beale Falasse e Pantera Negra. Porém, antes de falarmos um pouco sobre esses filmes, voltemos ao passado, para uma análise sobre a trajetória negra no Oscar.

shutterstock_editorial_5852349a_huge1Fundada em Los Angeles (Califórnia) em 1927, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas criou uma cerimônia em que anualmente os profissionais da indústria cinematográfica são laureados em reconhecimento à excelência do trabalho e conquistas na arte da produção cinematográfica: o Oscar. Tendo sua primeira edição em 16 de maio de 1929, a primeira negra a ir como convidada à cerimônia foi Hattie McDaniel, que concorreu e ganhou como melhor atriz coadjuvante por “…e o vento levou”, em 1939, 10 anos depois da criação da premiação. Quase 20 anos depois, o primeiro homem negro recebeu o Oscar em uma categoria principal: o prêmio de melhor ator foi para Sidney Poitier. Em 2002, Poitier recebeu da Academia um Oscar honorário, honraria oferecida a grandes nomes da sétima arte; nesse mesmo ano, outro evento se tornaria marcante para a história de negras e negros nessa premiação: Halle Berry se tornou a primeira mulher negra premiada na principal categoria, melhor atriz, por A Última Ceia.

São passos muito curtos, se consideramos os muitos anos em que o Oscar existe. Manifestações como #OscarSoWhite em 2015 e #OscarStillSoWhite 2016 abriram os olhos da Academia de Artes para a desigualdade presente em suas edições – não só por parte da Academia, mas também por conta dos produtores de filmes: para que haja filmes, atrizes e atores negros concorrendo ao Oscar, precisa-se de papeis para que atuem. No ano de 2016, em sua 88° edição, o Oscar foi apresentado por Chris Rock, que fez um discurso desmascarando a falta de diversidade em Hollywood. Seu monólogo causou grande impacto: acusando, sem meias palavras, a Academia de Artes de ignorar atrizes e atores negros em suas indicações, Chris Rock comentou sobre o boicote à cerimônia por Will Smith, Jada Pinkett e o diretor Spike Lee: “Jada disse que não viria. É como se eu dissesse que não usarei as calcinhas da Rihanna. Ninguém me convidou!”; e reiterou: “Não se trata de boicotar: queremos oportunidade. Queremos as mesmas oportunidades que os atores brancos. Nada mais.”

Analisando todo o contexto, a mudança ainda é pequena: o Oscar está longe de ser igualitário, mas temos os exemplos recentes de Moonlight – filme que retrata a vida de Chiron em três fases da vida (infância, adolescência e juventude), acompanhando sua busca por identidade em uma jornada de autoconhecimento e aceitação da sua homossexualidade – desbancando o queridinho La La Land, musical de Damien Chazelle, em 2017, em uma das maiores gafes da história do Oscar – seria cômico se não fosse trágico; Moonlight levou o maior prêmio da noite, “Melhor Filme”, e garantiu a Mahershala Ali seu primeiro Oscar como “Ator Coadjuvante”, tornando-o o primeiro muçulmano a levar o prêmio. Nesse mesmo ano, Viola Davis ganhou seu primeiro Oscar na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante” por Um Limite Entre Nós; feito que Octávia Spencer realizara em 2012, por sua atuação em Histórias Cruzadas. No ano passado, Jordan Peele ganhou o Oscar na categoria “Melhor Roteiro Original” por Corra – filme que aborda o racismo em uma pegada mais terror/thriller –, tornando-se o primeiro negro a receber um prêmio na categoria. Ainda há muito caminho para percorrer; porém, mesmo em pequenos passos, estamos marcando presença nas premiações. Neste ano, não podia ser diferente.

Quatro filmes concorrem nas categorias principais; vamos saber mais um pouco sobre eles.

Green Book: O Guia

0693677.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxA história gira em torno de um conceituado pianista negro, Don Shirley (interpretado pelo premiado Mahershala Ali), que precisa de um motorista e acaba contratando um sujeito branco e racista, Tony Lip (interpretado por Viggo Mortensen). A troca de papéis, que parece um mero detalhe, é justamente o que dá complexidade à trama.
Sinopse: Tony Lip, um dos maiores fanfarrões de Nova York, precisa de trabalho após sua discoteca fechar. Ele conhece um pianista que o convida para uma turnê. Os dois se chocam no início, mas o vínculo entre eles cresce à medida que viajam.
Concorre aos prêmios: Melhor Filme; Melhor ator (Viggo Mortensen); Melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali); Melhor Roteiro Original; Melhor Edição.

Infiltrado na Klan

0693677.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxAclamado filme baseado em uma história real, com direção de Spike Lee, Infiltrado na Klan conta a história de um policial negro, um dos raríssimos nos Estados Unidos dos anos 70, que consegue se infiltrar com sucesso na Ku Klux Klan a fim de sabotá-la por dentro.
Sinopse: Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava como os outros membros do grupo por meio de telefonemas e cartas e, quando precisava estar fisicamente presente, enviava um outro policial, branco, em seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron tornou-se uma liderança na seita, sendo responsável por sabotar linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.
Concorre aos prêmios: Melhor Filme; Melhor Diretor; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor ator coadjuvante (Adam Driver); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição.

Se a Rua Beale Falasse

0693677.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxDo mesmo diretor de Moonlight, Barry Jenkins, adaptação do livro homônimo de James Baldwin, o filme conta a história de Tish Rivers (KiKi Layne) e Fonny Hunt (Stephan James), dois amigos de infância que começam a namorar no início da vida adulta, mas que veem seu futuro abalado quando o homem é injustamente acusado por um crime.
Sinopse: Tish está esperando um filho enquanto luta para livrar seu marido de uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas, a tempo de tê-lo em casa para o nascimento de seu bebê.
Concorre aos prêmios: Melhor atriz Coadjuvante (Regina King); Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Roteiro Adaptado

Pantera Negra

0693677.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxPrimeiro filme de herói negro da Marvel Studios, primeiro filme de herói com o elenco inteiramente negro e o primeiro filme de herói indicado à categoria de Melhor Filme no Oscar, Pantera Negra veio quebrando muitos paradigmas.
Sinopse: Após a morte do rei T’Chaka (John Kani), o príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) retorna a Wakanda para a cerimônia de coroação. Mas, com o reaparecimento de um velho e poderoso inimigo, o valor de T’Challa como rei – e como Pantera Negra – é testado quando ele é levado a um conflito formidável que coloca o destino de Wakanda, e do mundo todo, em risco.
Concorre aos prêmios: Melhor Filme, Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Figurino; Melhor Edição de Som; Melhor Mixagem de Som; Melhor Direção de Arte; Melhor Canção Original (All The Stars)

Para além do glamour e dos belos vestidos no tapete vermelho, o Oscar também é lugar para se reivindicar direitos e mostrar a diversidade cultural dos Estados Unidos; é a arte, finalmente, imitando a vida.

Sobre a autora convidada

Cinthia Martiniano é graduanda em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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