Si-Simona

Oi, pretas!

Hoje trago algo entre uma resenha do filme Simonal, em cartaz desde o dia 8 desse mês de agosto, e um relato da minha experiência como mulher negra, enquanto espectadora da obra. Não se preocupem: esse relato/resenha é totalmente livre de spoilers, principalmente porque se vocês, assim como eu, pouco sabiam dessa história, isso poderia arruinar sua experiência.

3131820.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxPra começar, pouquinho sobre Wilson Simonal de Castro. Nascido em 1938, morador do Morro do Pinto, outrora localizado no Leblon, Simonal foi um cantor que alcançou grande sucesso entre as décadas de 60 e 80 (sim, no contexto da Ditadura Civil-Militar, o que é extremamente relevante para a sua história). Pronto. Dizer mais já é demais.

Todos os textos têm seu quê de dificuldade para seus autores e, a minha, nesse aqui, é relatar a experiência com o filme sem falar de pontos-chave da história. Isso porque – e é algo que conversei com meu namorado, um homem também negro, com quem assisti ao filme – sentimos que a narrativa se desenrola de forma que muitos elementos contam com a abertura subjetiva do espectador para serem interpretados.

Tá, todo conteúdo é assim, mas Simonal é um excelente exemplo da máxima cinematográfica “show, not tell” (mostre, não conte). E essa opção da direção do filme, somada às escolhas das músicas que tematizam a carreira do cantor, faz com que sintamos, literalmente na pele, tudo o que não está sendo dito, mas mostrado. Soa familiar?

A carreira de Wilson Simonal foi como a passagem de um cometa. O cara era, desde a gravata na cabeça até o gingado dos pés, uma estrela. Vocês podem não lembrar da autoria das músicas – até porque se popularizaram tanto que a noção de cantor original se perdeu –, mas certamente se lembrarão daquela voz para sempre depois de a ouvirem. O filme revela um artista plenamente consciente de si e de sua arte, que olha de cima seu público gritando sua obra, seu nome.

Colocando-o em perspectiva com outro cantor negro brasileiro de grande sucesso à época, mencionado num dos momentos de maior carga emocional do filme (e vocês certamente saberão que momento é esse, não se preocupem), podemos afirmar sem medo que o sucesso de Simonal se deveu também àqueles que o quiseram no topo por representar um ideal negro: a pilantragem, a alegria, alegria.

Quando esse ideal mudou, assumindo as formas revolucionárias das lutas pela democracia, Simonal deixou de ser visto como a estrela que de fato era. A questão é, e disso sabemos bem, que não nos querem de carango novo na garagem, fazendo dinheiro, sucesso, hinos aos nossos. Nos querem submissos, chaveirinhos sorridentes sob as botas racistas. E quando amanhã é outro dia, certamente não seremos nós aqueles que poderão se redimir.

Mas, ainda que diante de toda a dor da pele que compartilhamos lá do fundo da sala, também fomos plateia de Simonal. E a mensagem que fica em mim é a do cara que fez o povo inteiro cantar. E ele era preto.

Sim, sou um negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim…

Não deixem esse cometa passar em branco.

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