Vivências da pandemia

Como todos sabem, esse tempo de pandemia não está sendo fácil para  ninguém. A adaptação está sendo bastante complicada para a maioria de nós, já enfrentamos tantos momentos nessa quarentena, alguns bons e outros muito ruins, e neste relato, contarei um pouco da minha vivência como mulher negra na pandemia, sobre as aulas online, a adaptação ao novo padrão de vida, enfim, as mudanças que a pandemia me proporcionou.

Foi bem difícil no começo, pois, esse foi um ano de muitas mudanças para mim – creio que para todos, na verdade. Não poder sair para evitar o contágio da doença, usar a máscara, não poder encontrar amigos e parentes – confesso que isso foi o mais complicado –, não ver outras pessoas… Ainda mais porque neste ano fui morar sozinha. Isso, para mim, foi quase o ápice! Ganhar mais responsabilidade, cuidar de uma casa e colocar tudo do meu jeito. A autonomia é, na minha opinião, a melhor coisa que podemos ter. Para uma garota negra de 18 anos, isso é muito significativo! Muitos disseram que eu não iria conseguir, que eu era nova demais, mas isso não me abalou muito, pois eu sabia qual era o meu objetivo e  sei que, para uma garota universitária, periférica e negra, trata-se de um grande “pulo” na vida. Não foi necessário procurar por um imóvel, já que este é meu – e dos meus irmãos – por direito. Se adaptar a essa nova realidade, de estar no lugar em que passei boa parte da infância, foi um processo um pouco difícil. As lembranças que tenho dos meus pais aqui é bem forte – eles já são falecidos. Por muitas noites, eu chorei de saudade ou não consegui pegar no sono, pois meus pensamentos estavam repletos de momentos que tive com eles, bons e ruins. Está sendo um processo lento e difícil. A ansiedade está comigo a quase todo o momento, mas eu sei que conseguirei passar por isso. Mesmo que aparentemente eu esteja sozinha, eu sei que não estou. Uma das coisas boas que voltar para meu bairro de infância me trouxe foi a reaproximação das minhas irmãs, por parte de pai; é bom estar próxima delas novamente.

No meio disso tudo, uma coisa me afetou bastante: foi saber que as aulas na universidade retornariam na modalidade online. Eu fiquei apavorada! Mesmo com uma condição bem melhor do que muitos alunos, como eu iria ter aulas com um celular? O ideal seria  ter um notebook; mas pelo menos eu tinha um celular. Nele, não dava pra baixar aplicativos de videochamada, e os dados móveis  nem sempre tinham uma conexão boa. Em relação ao espaço e ao tempo, eu estava tranquila – até porque, como eu já disse, moro sozinha: não tem ninguém para atrapalhar; só minhas gatas que, às vezes, invadiam meu espaço. Porém, eu não me achava (e ainda não me acho) em condições mentais de ter aulas, mais especificamente online, assim como muitas pessoas. Fiquei preocupada, pois, apesar dessas condições não muito boas que eu tenho, havia pessoas que estavam em condições piores que a minha: que não tinham um celular ou uma internet; que, em casa, não iriam conseguir estudar, pois dividiam o quarto, ou que tinham outras coisas para fazer, como trabalhar. Aliás, trabalho foi algo que deixou muita gente sem dormir: muitos foram despedidos, o que fez com que o número de pessoas procurando emprego aumentasse. Se já era difícil antes, agora está mais complicado ainda; o jeito é se virar.

Enfim, houve muitas mudanças para todo mundo. Para mim, esse foi o ano em que nós pensamos e repensamos sobre o que já nos aconteceu: um ano parado; porém, ele nos proporcionou muitas coisas – e uma delas, o exercício da empatia, foi o que as pessoas aprenderam mais, revendo suas ações. Estamos pensando mais no próximo do que antigamente. Ainda temos muito o que mudar, mas creio que essa geração veio para isso.

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