Pretas estão sendo amadas

É bem comum se ver mulheres negras comentando entre si, nas redes sociais, sobre a solidão afetiva: sobre serem trocadas, não receberem afeto suficiente, entre muitas outras coisas. Fico bem feliz quando vejo fotos ou textos de mulheres negras sendo amadas, sobretudo sabendo que isso não é algo tão comum.

E por que digo isso?

Percorremos um longo caminho até o momento em que somos amadas de verdade; um caminho cheio de espinhos (tentativas de se encaixar nos padrões da sociedade, por exemplo). Eu nunca fui a primeira opção para namorar ou ficar: era a que sempre ficava de “escanteio”, pela minha cor; além de, por muito tempo, eu não ser considerada bonita, pelo mesmo motivo anterior. Isso influencia muito a nossa vida afetiva, negativamente.

Um dos problemas mais comuns é a insegurança: ela se instala em nossas mentes e é bem difícil tirá-la de lá. E eu tinha insegurança com tudo! Meu cabelo, meu corpo, minhas qualidades, tudo! Eu não acreditava que fosse possível ser amada pelo que sou, algum dia. Sou jovem, sei que haveria tempo bastante para viver isso; mas, por conhecer as estatísticas acerca de “experiências tardias”, meu medo se alastrava. Eu já estava cogitando não me relacionar com mais ninguém, viver para sempre em relacionamentos sem intimidades e entregas.

E romance, que parecia nunca chegar para mim, chegou. E sim, foi tudo mágico; digo isso porque o conheci nos tempos de escola: fomos bons amigos por um longo tempo, até começarmos a namorar. Esse tempo nos ajudou a amadurecer, como pessoas; sem isso, acredito que poderíamos acabar com tudo. Nesse processo todo, eu aprendi a me amar, fui me desfazendo da ideia de que nunca poderia ser amada — e cultivando a ideia de que, se um dia eu fosse, queria ser pela pessoa que eu sou, por minhas qualidades, meu interior e etc.; não pelo meu corpo, meu exterior. Por estar em um relacionamento com um homem negro, não senti receio algum ao conhecer a família dele ou compartilhar vivências com ele.

Nossa relação me ensinou muito: encontrei lealdade, paz, amizade, risadas e tudo mais que uma relação saudável pode ofertar; tudo que nunca tive em uma relação afetiva. E é o que eu desejo para todas as mulheres negras: que possam ser amadas da maneira que merecem, com respeito e muito afeto.

Enfim, como diria Rincon Sapiência: “Pretas e pretos estão se amando”.

[Ilustração: fotografia de Joana Choumali]

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