O que aprendo com Carolina Maria de Jesus?

No mês de novembro tive a belíssima oportunidade de visitar uma exposição sobre a vida da escritora, compositora e poetisa Carolina Maria de Jesus que ocorreu na arena Fernando Torres, situada no Parque Madureira, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Só essa localização tem uma singularidade e significância imensas. Quando eu poderia imaginar uma exposição de arte no subúrbio carioca, em vez do privilegiado centro da cidade, com seus diversos espaços de cultura e lazer?

Como o historiador Edward Thompson e outros estudiosos afirmam, a história também é construída com homens e mulheres que foram silenciados através do tempo, e com certeza Carolina de Jesus pertence a esse grupo.

Ao comentar a exposição em si, gostaria de salientar que, na porta do espaço cultural, Carolina estava estampada com seus traços negros; isso é muito importante, uma vez que mulheres com o fenótipo dela raramente estão nos programas de televisão, no hall de artistas mais requisitados ou em qualquer outro espaço midiático.

Ao entrar no espaço, eu tinha uma expectativa de encontrar mais textos do que fotos, já que conhecia apenas uma foto da Carolina. Contudo, pude ver diversas imagens e vídeos dessa grande escritora em diferentes momentos da sua vida, e seus filhos também eram personagens nas telas.

Carolina é genial, uma potência, e sua obra merece muito destaque. Uma das belezas de uma exposição é que alunos de escolas públicas podem visitá-la, estabelecendo uma relação de pertencimento entre a obra de Carolina e os visitantes, devido às semelhanças entre o Brasil da década de 1960 e o Brasil de hoje.

Poder ver a história sendo ilustrada é incrível. Na exposição, visualizei imagens da Carolina visitando outros países, sendo manchete de jornais estrangeiros, passeando em um aeroporto – enfim, vivendo seus merecidos momentos de glória.

Obviamente, trechos de seus textos também eram destaques na apresentação. A fome, assunto que para autora iria muito além da escrita, não ficou fora das ênfases. E toda a dor que ela representa se fazia presente. Um desses fragmentos é:

“Disse-me que ouviu dizer que escrevo mas, não acreditou pórque êles pensam que quem escreve e so as pessôas bem vistidas. Na minha opinião escreve quem quer.”

Para responder à pergunta do título, afirmo que através de Carolina aprendo que a arte e a escrita não podem permanecer restritas a alguma cor, gênero ou classe. Como mulher negra e periférica, aprendo que também posso ser escritora. Que as diversas contribuições artísticas criadas por Carolina encontrem um espaço de protagonismo na história nacional. Que possamos continuar aprendendo com ela.

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