Patrice Lawrence. Cores vivas. Darkside, 2019.

Cores vivas veio à luz como romance de estreia da escritora e jornalista Patrice Lawrence, membro de uma família ítalo-trinitária residindo na Inglaterra, formada em escrita para cinema e TV. A escrita de Lawrence voltada para o público infanto-juvenil rendeu-lhe alguns prêmios, como o The bookseller YA book prize.
Ambientado nas ruas movimentadas de Brighton, Sussex, local de nascimento da própria autora, a obra, Cores vivas, possui um início frenético e perturbador, colocando a leitora diante de um mistério logo no primeiro capítulo. Conhecemos a história de Marlon, um jovem tranquilo que, em sua adolescência, já tinha sido assombrado por sofrimentos suficientes para uma vida inteira, como a morte de seu pai e a internação de seu irmão, que possuía um infeliz histórico com as gangues de Brighton. O jovem a quem somos apresentadas nesse inovador thriller urbano é otimista, mas o acidente que ocasiona a morte de sua colega de classe, de maneira repentina, bem à sua frente, acaba se tornando um ponto de virada, uma vez que a vida do rapaz se torna uma completa confusão, com a polícia considerando-o um dos principais suspeitos pelo assassinato de Sonya, e com um mistério envolvendo gangues e drogas para solucionar.
Obcecado por respostas, o protagonista se vê cada vez mais cercado pela vida de Sonya, encharcado por seus problemas e por esse perigoso universo do tráfico de drogas. A preocupação de sua mãe é evidente, uma vez que ela enxerga seu filho mais novo repetindo os erros e escolhas cometidos por André, o irmão mais velho. A curiosidade e imaturidade de Marlon diante de situações as quais ele é jovem demais para presenciar incitam um sentimento de angústia e revolta na leitora.
Um cara faz uma coisa, o outro faz outra, daí esse cara tem que brigar com o outro. Um tem uma faca, daí o outro arranja um revólver. E o que a gente faz? Sai por aí atirando e se furando até não sobrar mais ninguém?
Nesse ponto, se torna evidente um dos principais temas abordados no livro: a violência, que se faz presente em todo o cenário, onde confrontos e problemas não resolvidos da maneira correta geram um ciclo de violência que só aumenta, até que Marlon se vê afogado dentro dele, obrigado a portar uma faca para se proteger das ameaças que sofre durante toda a obra.
Dois caras negros atirando um no outro numa briga. Cê não percebe, Marlon? É sempre a mesma coisa, a mesma coisa.
E, claramente, o debate sobre o racismo se encontra presente em cada canto, se tornando parte vital da história, que não ignora o fato de Marlon ser um jovem negro. Lawrence teve êxito não só em explorar a vida de um adolescente, invadida por uma tragédia e pela violência e rivalidade entre gangues, como também em retratar a realidade do racismo estrutural presente na Inglaterra que permeia todas as áreas. Marlon é acusado em diversas situações, e em todas elas, até mesmo na escola, o lugar que deveria fornecer apoio para o rapaz, o sistema é projetado para vê-lo como o culpado, como a ameaça. As interações do personagem com a maioria dos policiais são problemáticas e injustas: ele é tratado com desconfiança várias vezes, fazendo uma clara alusão à realidade do racismo presente nas investidas e abordagens policiais.
A obra de Lawrence se faz relevante para tematizar o contexto social que envolve um jovem marginalizado, que luta para provar, por si mesmo, a sua inocência e para sobreviver num mundo repleto de desconfiança e violência, assim como muitos jovens negros, relegados às margens desse sistema que falha em acolhê-los e dar-lhes voz, contribuindo para o aumento desse ciclo vicioso de violência.
Todo mundo conhecia a história que eles queriam ouvir. E não era a minha.
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