bell hooks. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rosa dos Tempos, 2018.
Escrita em linguagem simples, didática e acessível, a obra O feminismo é para todo mundo, da escritora bell hooks, vem para dialogar com a sociedade sobre temas que norteiam a vida das mulheres. Ainda que os estudos sobre gênero tenham, em alguma medida, avançado na contemporaneidade, muitas questões permanecem desconhecidas e estereotipadas no imaginário coletivo. bell traz à tona tudo o que está oculto. Sexismo, monogamia, lesbianidade e tantos outros pontos importantes para o entendimento do que é o feminismo são abordados de forma muito fluida e potente, tudo isso a partir do compromisso de mostrar que o feminismo realmente é para todo mundo.
Para que haja uma compreensão do que o feminismo significa, é preciso despir-se dos mitos e deixar que o conhecimento destrua a ignorância. A autora pontua que o feminismo surge da necessidade de acabar com o sexismo, toda a opressão e exploração sobre a vida e o corpo das mulheres. É uma ferramenta acessível de libertação. Para entendê-lo, é preciso aproximar-se. Até este momento, existem muito preconceito e estigmas ao redor do feminismo. Há uma visão muito equivocada. A população demoniza o movimento porque não o conhece; bell hooks propõe que a mensagem seja espalhada. Precisamos de uma literatura feminista que circule nos lugares de difícil acesso. Universidades e espaços acadêmicos abertos para que as mulheres acessem os conteúdos; um canal de televisão feminista. Este é um ponto muito trabalhado ao longo da obra: a necessidade de usar TV, rádio, internet, audiobooks para propagar o conhecimento e autonomia feminista. Falamos sobre isso, não é de hoje. Os muros da academia precisam ser ultrapassados!
O processo de conscientização e aceitação do feminismo nunca foi algo simples, sempre houve resistência. Agora, na era da (des)informação, a situação não é diferente. O feminismo não surge do nada; há um movimento muito anterior ao que temos hoje. Para que as pessoas tomem conhecimento de tudo isso, é necessário um movimento de conscientização muito forte, não apenas para aqueles que desconhecem o feminismo, mas para quem conhece também. Muitas mulheres conhecedoras do feminismo rechaçam termos como “sororidade”, por exemplo. bell dedica um capítulo de seu livro para repensar esse conceito. Ela explica que a sororidade precisa ser pensada com uma rede para capacitar e emancipar mulheres. Essa rede deve ser estendida a vários campos da vida das mulheres: trabalho, política e saúde. Reforça que à medida que mulheres usarem poder de classe e raça para oprimir outras mulheres, a sororidade jamais poderá existir de forma eficaz.
Outros dois termos interessantes que aparecem na obra, desconhecidos por muita gente, são a “maternagem” e a “paternagem”. O que bell propõe são novas formas de pensar o que é ser pai e mãe na sociedade. Desfazer os papéis sexistas que os acompanham desde o nascimento e educar essas crianças livre dos preconceitos e desigualdades de gênero. Há uma crítica ao comportamento dos pais em relação ao filhos, principalmente à ausência dos homens nesse processo. Trazer essa reflexão para a realidade é observar quantas crianças não possuem o nome do pai na certidão de nascimento. Paternagem não significa se despir da responsabilidade quando lhe convém, não é usar a criança para chantagear e controlar a esposa, não é achar que contribuir com o espermatozoide numa gestação é tudo… a paternagem está no campo do afeto, do cuidado e, principalmente, do compromisso. Ela conscientiza o homem da necessidade de participar na educação e instrução da criança, e isso não se dá como um favor, mas sim como uma forma eficaz de construir a equidade. A maternagem e paternagem são elementos fundamentais para o fim da dominação patriarcal na vida das crianças. Ambas possibilitam uma educação mais libertária e acolhedora. Eduquemos crianças feministas!
Outro conceito interessante a ser ressaltado é o da lesbianidade. Mais um prova de que a autora preocupa-se em trazer temas ainda muito desconhecidos e estigmatizados pela sociedade. E por que falar em lesbianidade ainda é um tabu para as pessoas, até mesmo dentro do movimento feminista? Pois há uma dificuldade de enxergar para além da heterossexualidade, o que invisibiliza a contribuição de mulheres lésbicas dentro do feminismo. É importante falar e reconhecer a importância dessas mulheres para o movimento; elas trouxeram pensamentos e saberes muito relevantes. Aceitar isso é trazer visibilidade às lésbicas que sempre precisaram encarar a lesbofobia dentro do feminismo. Ao longo do texto, bell faz um panorama mais detalhado sobre a atuação dessas mulheres e alerta que o fato de uma mulher ser feminista não a torna lésbica. Por fim, o feminimo se torna eficaz quando desafia a lesbofobia e reconhece o trabalho das militantes homossexuais. Afinal, o feminismo é delas também!
Ao final da leitura de O feminismo é para todo mundo, há uma sensação de acolhimento e esperança. Ver mulheres como bell, Chimamanda Ngozi Adichie – em seu livro Sejamos todos feministas – e tantas outras que se propõem a explicar o feminismo de forma didática, objetiva e honesta, me faz entender que essa é, sem dúvidas, a revolução mais bem sucedida que temos até o momento. Que mais pessoas – mulheres, homens e crianças – se encorajem para falar do feminismo, pois quando nomeamos, damos existência. Assim, o feminismo pode deixar de ser um tabu, um bicho de sete cabeças. Passa a ser de todo mundo. Que esse seja o feminismo nosso de cada dia.
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